SISTEMA DE PONTARIA – O CÉREBRO POR TRÁS DA ARMA
Já percebeu que toda vez que você é colocado à prova com um fator de estresse seus tiros saem abaixo do ponto de pontaria?
Algum instrutor de tiro lhe disse para focar na maça de mira enquanto realiza disparos consistentes no alvo? O mesmo instrutor corrigiu seus tiros após perceber que os impactos se deram abaixo do ponto de pontaria? Provavelmente ele fez a leitura do seu alvo e pronunciou as palavras “gatilhada” e “antecipação”.
Fonte: Site Infoarmas
Deixe eu lhe explicar algo a respeito do tiro e do uso do sistema de pontaria, nossos olhos trabalham de maneira a criar um ponto focal que coincide com a maça de mira, não conseguimos colocar dois pontos distintos no mesmo ponto focal, ainda que tenhamos um plano visual que permite ver objetos além do ponto, no entanto o tiro visado exige uma coordenação de olhos e mãos, então levamos o alinhamento do sistema de pontaria, constituído pela alça de mira e maça de mira na direção do alvo. O fato do alvo ter uma dimensão maior que o sistema de pontaria, possibilita que utilizemos a maça de mira como ponto focal enquanto nossa visão periférica percebe o alvo de forma “borrada”.
O que você treina no estande não funciona no mundo real
Você precisa utilizar o sistema de pontaria para garantir bons acertos no alvo, seja realizando disparos estáticos ou movimentando ao redor do veículo enquanto engaja múltiplas ameaças. O problema é que tudo aquilo que você treinou no estande não irá funcionar no mundo real.
A espécie humana recebeu uma programação que nos permitiu sobreviver na escala evolutiva nestes últimos milhares de anos. Esta programação nos manteve vivos contra predadores e ameaças do próprio ambiente, no entanto essas habilidades inatas tem um custo de performance que nos colocam como passageiros de um programa que roda no piloto automático nos instantes iniciais que somos confrontados com alguma ameaça ou situação de perigo.
Nosso corpo possui dois controles que automatizam alguns processos e funções, quando estamos numa situação confortável ou de normalidade o Sistema Nervoso Parassimpático fica responsável por estas funções e permite que acessem nosso treinamento e resposta cognitivas que exijam a atividade do córtex na tomada de decisão. Por outro lado, quando estamos numa situação de alta ansiedade ou em perigo de vida, o Sistema Nervoso Simpático assume o controle de forma automática e nosso corpo sofre alterações fisiológicas e neurais, nos tornamos “máquinas de combate”, porém com recursos limitados.
Tornando-se uma Máquina de Combate
O Sistema Nervoso Simpático quando ativado dispara uma descarga de hormônios, dentre eles a adrenalina, que geram alterações na nossa fisiologia como o aumento da pressão arterial, aumento do fluxo sanguíneo para grandes músculos, vasoconstrição de vasos periféricos, dilatação da pupila, dentre outros efeitos. O resultado desse “galão de adrenalina” no seu corpo é um efeito catastrófico mas que na nossa programação evolutiva foi vital para a nossa sobrevivência.
Os efeitos da ativação do Sistema Nervoso Simpático nos transforma numa “máquina de combate”, nos torna mais fortes e mais rápidos, dessa forma podemos fugir de nossos predadores ou lutar contra eles de forma mais eficaz. No entanto isso acompanha um custo, a capacidade cognitiva se torna reduzida o que ocasiona uma limitação nas tomadas de decisão(você fica mais burro), deixando para a nossa amígdala resolver os problemas que se apresentam enquanto as informações do córtex ainda não chegaram.
Além disso os efeitos catastróficos que essa excitação gera em nosso corpo alguns efeitos que atrapalham a sua performance no uso de uma arma de fogo, como por exemplo a perda das habilidades motoras finas que exigem precisão e coordenação de olhos com mãos, além de necessitar de pequenos músculos para executar alguma habilidade manual como acionar o retém do ferrolho. Somos beneficiados no que tange a capacidade de força e movimentos de empurrar e puxar que se enquadram no rol das habilidades motoras grossas, mas as demais habilidades ficam prejudicadas.https://www.youtube.com/embed/DobUJPiIwQg?feature=oembedExplicando por que a opção do ferrolho é superior ao retém
Como os nosso Sistema Visual é afetado
No caso dos olhos, os efeitos prejudicam diretamente o uso do sistema de pontaria, já que as pupilas dilatadas, a constrição de sangue para as extremidades da retina e a incapacidade de usar o olho dominante irão resultar em uma resposta não desejada. O resultado dessa reação é a perda da visão de perto, impossibilidade de focar objetos próximos(maça de mira), colapso na visão periférica(visão de túnel) e visão binocular forçada, sendo impossível fazer uma visada monocular. Todo o nosso sistema visual estará focado na ameaça, desta forma nosso corpo, cabeça e olhos estarão voltados para a ameaça. Isso acontece porque o sistema visual se sobrepõe aos demais sentidos e a informação necessária para superar aquele perigo ou ameaça provém dos olhos.
Configuração de Sobrevivência
Se você chegou até aqui entendeu que a nossa configuração de sobrevivência não levou em consideração o uso de uma arma de fogo durante uma situação de vida ou morte, já que não havia pistolas há 70 mil anos atrás. Isso atrapalha e impossibilita o uso de algumas técnicas durante a ativação do Sistema Nervoso Simpático, no entanto podemos aproveitar essa programação para alinhar a resposta natural do corpo com as técnicas utilizadas em combate. Lembre-se que o corpo irá trabalhar com economia de movimentos objetivando buscar a simplicidade.
Entenda que aquilo que você faz a 25 metros não lhe torna capaz de realizar a 3 metros. Considere que mesmo utilizando os fundamentos mecânicos idênticos, a mecânica do seu corpo é bem diferente. Treinar a curtíssima distância e sob o efeito do estresse te coloca em outro patamar do treinamento do tiro, os confrontos acontecem a curtíssima distância e dificilmente se darão a mais de 15 metros numa situação de violência contra um cidadão comum.
Se observamos a forma como treinamos a curta distância fica fácil de mapear pontos discutíveis e falhas no sistema de treinamento. O uso do sistema de pontaria é inegociável, a forma como você utiliza ele não! Existem diversas maneiras de utilizar o sistema de pontaria, seja através da alteração do ponto focal até ignorar completamente o aparelho de pontaria. Na minha opinião o uso da maça de mira deve ser uma constante no treinamento, além de refinar a sua técnica no uso do sistema de pontaria e sua acuidade visual, diminuindo o tempo de aquisição do alvo e a recuperação do sistema para o próximo disparo, ela “calibra” o seu corpo quanto aos seus pontos naturais de pontaria(quadril, nariz, olhos, tronco, pés), mantendo uma harmonia entre as repostas treinada e as reações instintivas e automáticas desencadeadas pelo Sistema Nervoso Simpático.
Descartando o Sistema de Pontaria
O que não levamos em consideração quando falamos do sistema de pontaria é que ele será TOTALMENTE DESCARTADO por nossos olhos durante um evento repentino e a curta distância que ative o Sistema Nervoso Simpático. Isso acontecerá porque a resposta de sobrevivência força o indivíduo a posicionar a cabeça na direção da ameaça e focar diretamente nela, já que precisamos do máximo de informação. O fato da visão binocular aumentar a quantidade de informação recebida pelo meio externo, impossibilita o uso do olho diretor. Outro ponto a ser considerado é que a curta distância e sob o ataque de um predador, animais que lutam sobre os pés colocam as mãos na frente do rosto para se defender, porém sem prejudicar a visão da ameaça.
Se considerarmos tudo o que foi descrito no último parágrafo você vai entender que quando um indivíduo toma a posição de tiro, seu corpo ficará de frente para o alvo e com os braços esticados, mas levemente abaixo da linha dos olhos e permanecerá com os dois olhos abertos até que a ameaça seja resolvida. Agora você vai descobrir porque o seu tiro acertou o alvo abaixo do ponto de pontaria, mesmo que não tenha nenhum erro de acionamento de gatilho como por exemplo gatilhada ou antecipação.
Levar a arma até a altura dos olhos deveria ser a ação natural depois de treinar horas e horas no estande, no entanto a arma prejudica a sua leitura da ameaça pois ocupa o ponto focal em que seus olhos encontram a ameaça. Sendo assim, suas mãos ficam abaixo da linha dos olhos e seus disparos atingem o ponto abaixo daquele pretendido. Vale lembrar que sob estresse e com o sistema nervoso simpático ativado as respostas iniciais de sobrevivência não passam por um processo consciente, elas são disparadas pela amígdala e contam com um rol de reações reflexas(reação de sobressalto) automáticas, essas reações sobrepõe o treinamento e agem de maneira a garantir a nossa sobrevivência.
Como resolver o problema dos impactos baixos?
Como você resolve o problema dos impactos baixos? Entenda que você não pode desconstruir um reflexo, mas pode inibi-lo ou substituí-lo no menor tempo possível através do treinamento correto e alinhado com as suas respostas inatas. Por este motivo que devemos desconsiderar Ciclo OODA e práticas onde não levam em consideração a forma como o nosso cérebro responde a ameaça e ao treinamento.
Trabalhamos nas linhas da ESPERANDIO TACTICAL CONCEPT® para criar uma sinergia entre as reações naturais e a resposta condicionada que você busca integrar através do treinamento. Nossos alunos possuem uma “assinatura” de protocolos e técnicas desenvolvidas em nossas linhas, eles são mais rápidos, mais efetivos e sabem explicar o por quê de cada técnica. A ESPERANDIO TACTICAL CONCEPT® joga um jogo diferente das outras escolas de tiro, buscamos através da abordagem científica, evidências e realidade tornar você mais eficiente e eficaz num cenário dinâmico do confronto armado.
Se você treinar de forma inteligente irá entender que treinar de qualquer forma te deixa burro e achar que na hora sai te torna estúpido!
Parafraseando a lenda Travis Haley:
“Pensadores antes de atiradores”.